Thursday 22 December 2016

Eu, sommelier

Há quatro meses eu estava com algum dinheiro no banco e sem perspectiva de emprego. Foi quando resolvi investir um pouquinho mais no meu hobby cervejeiro e me inscrevi no curso intensivo de Sommelier de Cervejas do Instituto da Cerveja Brasil (ICB). De lá para cá um monte de coisa aconteceu e até curso de tecnologia cervejeira eu fiz. Acabei chegando em São Paulo bem diferente de como achei que chegaria e isso impactou demais a forma como eu voltei de lá. Mas espera, estou colocando o carro na frente dos bois.

O curso de sommelier do ICB atendeu a minhas expectativas. Achei um curso bem completo, que me deu as ferramentas que preciso para me preparar para atuar como sommelier. Ao mesmo tempo me pergunto como teria me saído sem algum conhecimento prévio. O volume de informações é grande e o tempo para digerir tudo curto. Um curso intensivo, né? A experiência já me mostrou que quase sempre isso significa intenso. Por isso foi tão importante para mim ter encontrado pessoas maravilhosas para compartilhar aquelas duas semanas.


Engraçado é que nos primeiros dias tudo parecia muito tranquilo. Talvez porque nem tudo que eu estava vendo era novo (brigada, Randy Mosher), talvez porque só tive uma leve inflamação na garganta (brigada, São Paulo). Foram aulas sobre processos e escolas cervejeiras, sempre acompanhadas de degustações no final de cada turno, que nos ajudavam a ajustar a melhor maneira de descrever uma cerveja (jargões, todas as áreas têm os seus). Então veio a primeira prova teórica e as aulas de harmonização, atendimento, serviço, jantar harmonizado, carta de cervejas e parece que a ficha caiu "é isso tudo que precisamos fazer para trabalhar como sommelier de cervejas!". As coisas ficaram um pouco mais (in)tensas... mas eu já falei que minha turma era massa? Pois, parece que a gente tirou de letra.

 
Duas queridas que quero levar pra sempre desses dias.

No último dia do curso fizemos a segunda prova teórica, uma prova prática na qual precisávamos identificar, descrever e apontar quatro estilos de cervejas diferentes e uma apresentação de trabalho que consistia em montar uma carta de cervejas harmonizada para qualquer estabelecimento ou evento que desejássemos. O último dia do curso foi também o dia em que acordei podre de doente, mal conseguia respirar pelo nariz, quanto mais sentir aromas, então não vou comentar muito sobre a prova prática e meu desespero ao pegar a primeira cerveja e "não tô tentindo nada!" O que foi muito bacana e um baita aprendizado foi ver a apresentação de todos os grupos. Claro, perceber que eu era capaz de fazer algo que jamais me imaginei capaz (juntar uma comida com uma bebida, vê que incrível!) também foi incrível. A gente não para de aprender.

Ainda tenho muitas horas de copo pela frente para me tornar a profissional que desejo. Mas é isso, terminei as duas semanas de curso e voltei de São Paulo sabendo que eu quero mesmo trabalhar com cerveja. Isso não significa necessariamente mudar de área. Vejam só, estou cada vez mais convencida de que nasci para ser professora. Cenas do próximo capítulo? ;-)

Sim, visitei alguns bares bem bacanas em Sampa (uma das coisas que mais me encantou foi poder achar Dieu du Ciel! em cada esquina). Seguem as dicas:

Barcearia
Alameda dos Anapurus, 1469 - Moema
Pertinho do curso, único bar que fui mais de uma vez. As opções na garrafa são melhores do que nas torneiras. Preço honesto, food truck na porta.

Câmara Fria
R. Graúna, 137 - Moema
Bar novo, pequeno, mas muito aconchegante. Muitas torneiras da Wals e opções em garrafas. Comida boa e atendimento excelente.

Cervejatorium
R. das Rosas, 797 - Mirandópolis
O local estava passando por uma reforma, mas fomos super bem atendidos. Sommelier presente no local não é pra qualquer um. Apesar de terem algumas opções de petiscos, também havia um food truck na porta.

Cerveja Artesanal São Paulo
Rua Paracuê, 141 - Sumaré
A dona deste bar estava fazendo o curso também é na sexta-feira juntou muita gente lá. Todo mundo que trabalha no bar entende um bocado de cerveja e achei os preços bem razoáveis. Pra comer, adivinha? Food truck!

Ambar
R. Cunha Gago, 129 - Pinheiros
É o único do bairro dá modinha que vou colocar por aqui porque foi o único que eu gostei de verdade. O ambiente é agradável e o atendimento excelente. Deram conta de um monte de bêbados final de noite último dia de curso. E a comida é deliciosa também.

P.S.: o resultado final ainda não saiu, mas não já falei que todo mundo arrasou?

Thursday 1 December 2016

Teste anti machismo (ou anti babaquice) no mundo cervejeiro.

Volta e meia assistimos uma cervejaria ter uma ideia "brilhante e original" do seu departamento de marketing envolvendo mulheres. A bola da vez foi a Cervejaria Irada, que publicou no jornal que oferecerá uma cerveja a cada mulher que estiver fazendo top less na praia sob a desculpa de que estão "defendendo a Lei do Topless".

Eu já escrevi sério sobre o tema umas tantas vezes. Já debati, já discuti e até já briguei sobre o assunto. Mas como ele ainda permanece, decidi fazer um jogo para ver se as mentes "jeniais" que bolam relações desta natureza entre mulher e cerveja se tocam.

Vale lembrar que hoje as mulheres representam em torno de 40% das vendas de cerveja no Brasil. Então, nos tornamos figuras de peso.

Vamos lá. Some os pontos e veja o resultado no final.

A. Se você é dono de ponto de venda de cervejas artesanais: 
1) Você oferece cerveja docinha para as mulheres que entram no seu bar: 10 pontos;
2) Você evita oferecer IPAs para as mulheres: 10 pontos;
3) você pergunta o que ela gosta e indica uma cerveja a partir da resposta: 0 pontos;
4) Você mantém pôsteres de mulheres nuas, decotes exuberantes, semelhante as paredes de uma borracharia: 100 pontos e vá a terapia pois sua idade mental não passou dos 12 anos.

B. Se você é dono de cervejaria: 
1) Deixou de contratar uma mulher duvidando que ela seja boa cervejeira porque afinal "mulheres não entendem nada de cerveja": 10 pontos;
2) Deixou de contratar uma mulher porque ela supostamente não consegue carregar barril: 10 pontos;
3) Contrata seus funcionário de acordo com a qualificação e o grau de comprometimento dele, independente da cor, sexo, orientação sexual, religião etc: 0 pontos;
4) pensa num marketing que envolve mulheres porque afinal "sou machão e preciso mostrar para todo mundo que "sou um cheirador de calcinhas nato": 100 pontos e vá a terapia pois sua idade mental não passou do 12 anos

C. Se você é cervejeiro caseiro: 
1) Acha que mulher não entende nada de cerveja, não sabe muito como fazer cerveja, ou não consegue carregar panelas, galões de água e sacos de malte: 10 pontos;
2) Não dá ouvidos para os comentários técnicos delas porque só "os meus camaradas" realmente lêem sobre processos e técnicas: 10 pontos;
3) Acha que é um hobby apaixonante e assim como você ama, acredita que outras pessoas no mundo também adoram, independente da cor, sexo, orientação sexual, religião, etc: 0 pontos;
4) Posta foto da cozinha suja de mosto chamando a "patroa" para limpar ou faz cervejas com nomes sugestivos como bucetIPA: 100 pontos e vá a terapia pois sua idade mental permanece na idade da pedra.

Se você somou zero: muito bem! É um cidadão do século XXI.
Se você somou de 10 a 50: você pode melhorar. Mas fazendo uns ajustes aqui e acolá ainda há esperança ser se tornar um ser humano melhor.
Se você somou 100 ou mais: amadureça; você não passa de um ogro ou simplesmente um completo imbecil.

Brincadeiras a parte, a co-relação entre cerveja e mulheres já deu, né gente? Está todo mundo careca de saber que há mulheres consumidoras, profissionais e hobbistas neste mundo. Mas se você realmente acha que ficar insistindo em usar o corpo das mulheres para vender cerveja, seja lá o motivo, me parece que na realidade este tempo gasto em marketing estúpido e atrasado é para mascarar o fato de que a cerveja nem é tão boa assim. Concentrem-se em fazer boas cervejas, seja na fábrica ou em casa, e deixem as mulheres em paz.

Ou então coloque-se no lugar contrario. Imagine um dia de trabalho intenso, você chega em casa morto, doido por uma cerveja, abre a geladeira para pegar aquela especial que você estava guardando, e dá de cara com um rótulo assim:


Entendeu agora?

Wednesday 23 November 2016

"Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço"

Recife é uma cidade que sempre me encantou. Estive lá a primeira vez nos anos 90, num maravilhoso Abril pro Rock, nos tempos áureos do Mangue Beat e de Chico Science. Desde então, criei uma relação de amor a esta cidade quente, confusa, engarrafada e linda! Nos últimos anos tenho voltado com mais freqüência à cidade, pois minha irmã resolveu morar por lá. Uma coisa que sempre pensei em Recife/Olinda  era: "a cidade é bonita, tem cantinhos deliciosos para beber uma cerveja, mas está no paradigma Ambev". No máximo uma Heineken dava para encontrar nos bares. Lembro de uma vez em que fui ao supermercado louca por uma cerveja e me deparei com um corredor abarrotado de Skol, Kaiser, Brahma, Antártica. Só pensava, "nem uma mísera Stelinha!".

Pois esta realidade começou a mudar. E mudar muito. Entre 2015 e 2016 oito microcervejarias abriram na região. Recife já conta com 17 bares cervejeiros onde se pode encontrar uma variedade surtida de cervejas, e várias lojinhas. E as cervejas estão muito boas! Vamos a elas:
DeBron, Eköut, Estrada, Duvália, PatLou, Capunga, Babylon, Yellow House. Não consegui experimentar as três últimas. Mas em relação às cinco primeiras, tive ótimas surpresas!

O chopp American IPA da Estrada é ótimo. Altamente lupulada mas sem o hash desagradável, relativamente comum em IPA's. Lúpulos e o calor de Pernambuco são uma combinação perfeita. Falando em lúpulos,  a 1817 APA da Eköut, também foi um grande encontro. Mais suave, porém não menos saborosa, esta cerveja, homenagem a Revolução Pernambucana, leva boa carga de Centennial e Cascade. Outra excelente pedida para os hopheads.  Da Eköut, pude provar também a Munich Helles, suave e maltada, que combina com o clima da cidade (e deve harmonizar maravilhosamente bem com os caldinhos de sururu e caranguejo). A PatLou, provei estilos mais ousados para o clima local: uma Porter com chocolate. Sou a fanática das Porters, então, não foi difícil gostar, até porque, esta Porter estava lindamente confeccionada. Sem adstringência nenhuma, o que permitia degustar todo o amargor dos maltes tostados e a presença leve, sem exageros, do chocolate. Porters são um estilo um pouco subjugado no Brasil. Muito raro encontrar bons exemplares nacionais. A PatLou conseguiu produzir uma Porter que, bebida fresca, não deve nada para algumas porters londrinas. Experimentei também uma American Wheat muito boa. Com a Duvália dei azar. Não porque não tivesse cervejas excelentes, mas porque o local onde bebi mal sabia o que era um chopp e mantinha os barris expostos sem refrigeração nenhuma e uma chopeira de dar pena.  Então a cerveja estava muito mal tratada no ponto de venda (aliás, curiosidade, no bar havia anuncio de chopp claro e escuro. Pedi um escuro sem dúvidas! Veio um chopp pale ale. Em alguns lugares não especializados, descobri que para os pernambucanos, qualquer cerveja que não seja absolutamente amerelinha, é chamada de cerveja escura). Mas experimentei a weiss e a stout com mel de engenho (acho uma graça o jeito que os pernambucanos chamam melado). Pude perceber que ambas são ótimas cervejas, mas os barris estavam muito judiados, o que prejudicou um tanto a qualidade do produto.

Por fim a DeBron. Bom, a DeBron é um capítulo a parte. Pelo que ouvi é, entre todas as cervejarias locais, a que possui melhor infraestrutura em equipamentos. E eles estão investindo pesado no negócio. E está dando frutos. Foi da DeBron a minha maior surpresa. Porque bebi dois estilos que realmente não sou muito fã: weiss e witbier. A weiss é excelente! Não muito esterificada, suave na medida certa, equilíbrio perfeito entre o cravo e a banana.  Ainda que não seja uma apreciadora nata do estilo, gosto de algumas raríssimas weiss brasileiras, mas todas do sul do Brasil. Fiquei muito feliz de encontrar uma weiss tão boa no nordeste. E vamos combinar, uma weiss no calor não tem igual (aliás esta weiss me fez dançar forró a noite toda). Mas a witbier da DeBron. Ah, a wit... Merece um comentário à parte. Gosto das wits belgas justamente porque são equilibradas. Mesclam as especiarias com os ésteres e fenóis das cervejas de trigo. No Brasil, são raros os exemplos que conseguem este equilíbrio. Normalmente as wits brasileiras para mim, lembram molho de salada: excesso de temperos. O que torna a cerveja difícil de beber até o fim. A wit da DeBron não. Medida, comedimento, balanço, são as chaves desta cerveja. Os sabores cítricos dos condimentos se mesclam aos do malte de trigo, produzindo uma cerveja, que talvez seja uma das melhores wits nacionais. Dá para beber litros dela numa boa, sem enjoar. E olha que porre de wit é algo que nunca consegui.  Fico devendo a Imperial Stout com mel de engenho e amêndoas de cacau, que por dias, não consegui pegar engatada no Bierdock. E fiquei sabendo de muito litros dessa estão descansando em paz em barris de carvalho francês e umburana. Imagina isso daqui um ano!

Enfim, quem for a Recife/Olinda, já pode se deliciar com as ótimas opções locais. Agora é partir para o carnaval e levar ao pé da letra o refrão:

"Voltei Recife.
Foi a saudade que me trouxe pelo braço.
Quero ver novamente Vassouras
Na rua abafando
Tomar umas e outras
e cair no passo"

E agora essas umas e outras podem ser de cervejas artesanais locais!

Segue a lista de onde se pode beber as cervejotas locais (alguns com mais de uma unidade):

Apolo Beer Café
Rua do Apolo, 164, Recife Antigo
https://www.facebook.com/apolobeercafe

Armazém Centenário
R. Barão de Itamaracá, 10, Espinheiro
https://www.facebook.com/armazemcentenario/

Beerdock
Rua Desembargador Luiz Salazar, 98, Madalena
http://beerdock.com.br/

Beer Garden 17
Avenida 17 de Agosto, 823, Casa Forte
https://www.facebook.com/beergarden17/

Beer House
R. Santo Elías, 237, Espinheiro
Rua do Futuro, 858, Jaqueira
https://www.facebook.com/cervejariabeerhouse478/

Bodega do Veio
Rua do Amparo, 212 (em Olinda!)
Av. Rui Barbosa, 546, Graças
Rua da Moeda, 162, Recife Antigo

Boteco Beer
R. Ernesto de Paula Santos, 625, Boa Viagem

Capitão Taberna
Shopping Center Parnamirim, R. João Tude de Melo, 77, Parnamirim
https://www.facebook.com/capitaotaberna/

Cibrew
Av. Norte, 2822, Encruzilhada
https://www.facebook.com/cibrew/

Entre Amigos
R. Marquês de Valença, 30, Boa Viagem
Rua da Hora, 695, Espinheiro
Av. Boa Viagem, 760
http://www.entreamigosobode.com.br/

Gato Beer
Av. Eng. Domingos Ferreira, 1537, Boa Viagem
https://www.facebook.com/gatobeer/

Mafuá do Januário
R. Cap. Zuzinha, 184, Setúbal
https://www.facebook.com/mafuadojanuario/

Mr. Beer
R. Santo Elías, 475, Espinheiro
https://www.facebook.com/mrbeerespinheiro/

Venda de Seu Antônio
R. dos Arcos, 1745, Poço da Panela
https://www.facebook.com/vendadeseuantonio/

Villa do Malte
R. Profa. Ângela Pinto, 59, Parnamirim
http://www.villadomalte.com.br

Friday 4 November 2016

Mulheres cervejeiras, mulheres mães


Deu na BBC: Uma pesquisa de cientistas britânicos sugere que o consumo moderado de bebida alcoólica durante a gravidez não causa problemas de comportamento ou de desenvolvimento de habilidades mentais ao bebê.

Calma! Esta confraria não está insinuando que consumir bebidas alcoólicas durante a gravidez seja benéfico! Leia até o final, com ternura e afeto.

Sempre tive espírito muito aventureiro e alma cigana, segundo a família. Ganhava presente em dinheiro, já comprava passagem de ônibus pra algum canto! Amigos eu tinha espalhados pelo país, e visitei muitos! Ainda bem! Hoje conheço boa parte desse país incrível! E o melhor: conheço suas gentes, seus hábitos, suas culturas, seus cheiros e sabores. Daí que esse meu espírito aventureiro me afastava totalmente da ideia da maternidade. Eu passei a maior parte da minha vida dizendo que nunca seria mãe, que não tinha o menor interesse no “quesito”. Gente, eu nunca peguei um bebê nos braços! Até que...

Linda da minha vida, morando com meu ex-companheiro em outro país, fazendo Doutorado em História da Arte (sim, muito glamour!), viajando horrores por aquela Espanha maravilhosa, depois de cumprir o sonho dele (conhecer Portugal) e o meu (me lambuzar de Grécia), acordei e senti que precisava ser mãe, simples assim. Sem questionamentos, medos ou incertezas, mudei. Passa um tempo... Marta, os livros, o enjoo, o buxo... E a vontade de tomar cerveja! Aí sim, começou meu drama. O tio médico diz que eu tô muito chata e que preciso beber, a amiga fica histérica só de você insinuar que vai beber, a vizinha diz que você não merece ser mãe porque não sabe se portar como tal e a tal da pesquisadora de Londres garantiu que um pouquinho de cerveja não vai afetar o desenvolvimento do bebê em nada. Vou gritar!!!

Bem, eu optei: Durante a gravidez (após a fase dos enjoos), tomava uma long neck de vez em quando. Durante a amamentação, tomei cerveja 0%. Eu sugiro que você faça o que você quiser, porque tenho certeza absoluta de que o seu corpo sabe o que quer e o que não quer, e as mães, mais que ninguém, entendem o que devem ou não fazer com suas crias. É nosso sangue que as alimenta, é nosso corpo que as protege, é nosso coração que as embala.

Este é um recadinho especial para as confreiras gravidinhas da nossa confraria, que pegas de surpresa ou não, estão atravessando um momento único, complexo, dramático e maravilhoso! Meninas, como a alquimia da cerveja, que transforma grãos fermentados em líquido precioso, o corpo de vocês está moldando e criando novas vidas, e são vocês que decidirão como fazê-lo, porque são vocês que as estão gestando.


Como em qualquer âmbito da nossa vida, os excessos não fazem bem, somente o abuso de amor e carinho estão liberados nessa produção de ________________ (preencha com a opção desejada: filhos/cerveja).

Saturday 22 October 2016

Formação em cerveja

Há duas semanas eu e Tatiana Rotolo fizemos o Curso Avançado de Tecnologia Cervejeira no Senai Vassouras, RJ e foi uma experiência incrível. Para quem não sabe, o Senai Vassouras foi pioneiro na formação de cervejeiros no Brasil e por 23 anos formou centenas de técnicos para atuarem como mestres cervejeiros. Nós tivemos a oportunidade de fazer parte do último curso de Tecnologia Cervejeira. Isso mesmo, como foi noticiado em setembro, a cervejaria-escola em Vassouras está fechando as suas portas e sendo transferida para a unidade da Tijuca. Por lá já estão oferecendo o Curso Básico de Tecnologia Cervejeira e o avançado deve começar em breve, mas ainda não há previsão de turmas do curso técnico.

Eu e Tati na primeira aula de laboratório

Essa situação deixou nossa estada em Vassouras um tanto agridoce. Enquanto reconhecíamos que a planta da cervejaria está bem obsoleta, com vários itens com defeito e sem possibilidade de conserto ou atualização, era uma pena imaginar que uma estrutura tão completa, com chance de imersão no mundo cervejeiro, será fechada. Mais um motivo para aproveitarmos ao máximo as duas semanas de curso que fizemos, porque muitos dos excelentes professores com quem tivemos contato não serão realocados para a Tijuca. Última oportunidade para aprender com eles também...

O curso de Tecnologia Cervejeira do Senai é dividido entre os módulos básico e avançado. Eu, muito sabichona, encarei o avançado direto. Morri de medo de não dar conta de acompanhar, mas como venho estudando já há algum tempo, acabei dando conta. Porém, segundo Tati, a curva de aprendizado no curso básico é bem maior. Ou seja, quem tiver chance, invista no curso básico!

Sala de Brassagem

A carga teórica do curso foi bem maior do que eu imaginava e eu até gostei disso. Acredito que por ter sido o último curso em Vassouras a turma foi um pouco maior do que o usual, o que dificultou um pouco as práticas de brassagem e aulas nos laboratórios. Mas além de aprender muito com os professores que tivemos, o aprendizado era constante com a troca de experiência com outros cervejeiros. Desde paneleiros, como nós, a funcionários de uma grande cervejaria, passando por gente que está abrindo suas nanos e micros. Essas vivências diversificadas também nos abriu o leque de opções para elevar a cerveja da categoria de hobby.

A turma toda

Voltamos para Brasília com a cabeça fervilhando de ideias e loucas para colocar o aprendizado em prática. Talvez até um pouco mais que isso. Como boas professoras que somos, queremos também repassar esse aprendizado. O que será que vem por aí?

Wednesday 28 September 2016

Comida, cerveja e paixão

No meu primeiro texto pro nosso blog eu queria falar sobre paixão. Sim, paixão. Qualquer tipo de paixão, pois as paixões acabam se encontrando de alguma forma. Uma das nossas confreiras me pediu pra falar sobre um almoço que fizemos lá em casa, há umas duas semanas, mas eu queria mesmo era falar de amor e paixão no meu primeiro post para o nosso blog. Sério... Faz sentido, eu juro! Leia até o fim e você entenderá!

Desde pequena, eu costumava sentir os aromas vindo da cozinha quando ia visitar minha avó no interior de São Paulo. Ela era espanhola, e assimilou a culinária brasileira perfeitamente, resultando numa mescla de comida caseira brasileira temperada com uma pegada espanhola. Aquilo era um deleite! E se não era na casa da vovó Raquel, era na vovó Lulu. Ai, as estrelas na minha boca... Vovó era aquela cozinheira mineira tradicional, de mão cheia, que levava horas na cozinha, dias preparando banquetes incríveis! Das suas panelas me recordo, em especial, do leitãozinho à pururuca, do lombinho assado com batatas, daquele pudim de leite condensado... E como não?! As empadinhas de frango! Belo Horizonte me abraçava com tanto amor! Em tempo: Minha felicidade se desdobrava, pois mamãe bebeu da fonte das duas.

Pois bem. Dando um salto na conversa: Meu pai sempre usou bigode. E barba. Sempre, desde que eu nasci. E eu acho que gostava. Era muito legal vê-lo falar nas reuniões, nas aulas da Universidade (sim, eu era aquela que sempre estava a tiracolo porque não tinha outro jeito), e passar os dedos na barba, alisando-a, quase como um gesto de relaxamento. Acho que eu relaxava junto. Mas o que mais me intrigava era vê-lo conversando com as pessoas amigas no bar. Mal chegávamos e vinha o garçom, geralmente com uma tulipa de chopp, e ele sempre pedia pra caprichar no colarinho. Eu ficava observando aquele gesto dele pegando o copo cheio, observando as bolhinhas subindo, a espuma formada, e aqueles dois, três goles grandes e consecutivos sorvendo quase metade do copo. Os olhos até se fechavam pelo prazer que aquilo lhe dava. Então, ele voltava com o copo para a mesa e voltava à conversa. Eu não tirava os olhos e seguia observando porque, pra mim, o melhor estava por vir. Com o lábio inferior ele cobria parte do bigode para sorver a espuma que a cerveja havia deixado ali.

Terceiro salto nesse texto (prometo que fará sentido no final!):
Já bem adulta, me encontrei na cozinha. Talvez até por uma falha de caráter, me descobri cozinhando muito bem, e agradando paladares um tanto quanto exigentes. Antes dos 30 nem ovo eu fritava! Mas foi uma vez, por uma necessidade, quando percebi que a mágica estava ali ao meu alcance. Que com minhas mãos, meu paladar e um tanto de ousadia, eu conseguia liberar aromas incríveis pela cozinha! E digo “falha de caráter” porque uso isso para agradar às pessoas. Será? Mas isso fica pra outro post...

Então, qual é o fio da meada?

Quero dizer que cozinha boa e cerveja boa são paixões, e ambas são vividas através de afetos. Memória afetiva é o que nos move, é o que me faz ir à cozinha 3 dias antes de receber meus melhores amigos em casa, começar a preparar pratos que nunca fiz antes, ou que tenho como referência desde a infância. Memória afetiva é o que me faz entrar sozinha em um bar de cervejas especiais, passar um bom tempo namorando todos rótulos da casa e esperar sentada à mesa, com a alegria de uma criança às vésperas de seu aniversário, aguardando o primeiro gole. Aquele gole que traz tantas lembranças quanto sabores à boca, aqueles aromas que me trazem a mesma emoção que me invade ao recordar as cozinhas das minhas avós.


Cerveja e comida, afeto e paixão, saudade e presença, amizades ou não. Mergulho neste universo de sensações e prazeres e convido vocês a viverem essas histórias que contaremos por aqui.


Thursday 22 September 2016

Encontro na Fabrika da Cerveja

Na última 5° feira, dia 15 de setembro, as confreiras se reuniram conforme a tradição: terceira quinta de cada mês. O encontro é informal, aberto e sempre rola um bom bate papo regado a excelentes cervejas.

No último encontro fomos visitar a Fabrika da Cerveja, em Águas Claras. A Fábrika, é uma mistura de loja de insumos e bar. Chope fresquinho se mistura com maltes, lúpulos, leveduras e equipamentos de produção de cerveja na panela. Num grande balcão, o cliente pode se sentar, tomar uma gelada, comprar tudo que precisa para sua produção caseira, e ainda bater um papo bacana com os simpáticos irmãos Coutinho, que comandam a loja.

Algumas confreiras que foram ao encontro e os irmãos Coutinho.

A Fábrika da Cerveja é a terceira loja de insumos de Brasília. A primeira é a tradicionalíssima Candango Brau, loja que salvou muito cervejeiros pioneiros em Brasília, pois desde 2010 dispunha de insumos para vender, além de oferecer cursos de produção de cerveja na panela. Aliás, estima-se que o Andreas, um dos sócios da Candango, já tenha formado mais de 500 cervejeiros por estas bandas.

A segunda loja é o Point do Cervejeiro, no Sudoeste. Aberta pelo espírito empreendedor do Josias, a loja foi a primeira a oferecer variedade de insumos numa localização mais próxima do público e com horários mais flexíveis. Quem não se lembra que a Candango abria apenas às quintas e sextas pela noite e aos sábados pela manhã? Os cervejeiros precisavam de uma organização na agenda para poder realizar as compras.

Todas elas cumprem seu papel quando o assunto é produção, mas a Fábrika da Cerveja, com sua mistura agradável de bar e loja, oferece um lugar diferente. Você pode chegar e montar uma receita na hora, tirar algumas dúvidas, conhecer outras pessoas que apreciam cerveja tanto quanto você e não vão se cansar do papo que gravita em torno do nosso líquido preferido. Isso tudo enquanto toma um chope gelado ou um dos rótulos que estão prontos para serem consumidos. Porém, muito cuidado. Pode acontecer de você planejar uma “passadinha” na Fábrika para buscar uma torneira ou comprar aquele malte que estava faltando e acabar ficando por lá mesmo, tomando uma cervejinha de boas e conversando por horas sobre cervejas com os donos e os clientes da loja. Tudo isso com uma vantagem extra: é do lado da minha casa, ehehehe.

Friday 16 September 2016

Nasce uma confraria feminina

A cerveja é uma bebida milenar e no protagonismo dessa história, por séculos e séculos, encontramos as mulheres como responsáveis pela produção dessa que já foi chamada de "bebida divina". A participação feminina só mudou nos períodos mais recentes da história quando a cerveja deixou de ser um produto apenas artesanal para se tornar mais um artigo comercializável. Hoje, existe a visão de que cerveja é coisa de homem e o número de mulheres envolvidas com o mercado cervejeiro é mínimo. Isso só pode ser mudado de uma maneira: é preciso ter uma bebedora de cerveja antes de ter uma profissional da área.

Foi com a ideia de reunir mulheres apreciadoras de uma boa breja que a primeira confraria feminina de cerveja do Distrito Federal surgiu. O primeiro encontro foi realizado no dia 28 de abril na loja Mestre-Cervejeiro.com. Desde então os encontros têm acontecido informalmente toda terceira quinta-feira do mês, nos mais diferentes bares e lojas da cidade.

Registro de alguns encontros e nossa participação no lançamento da cerveja ELA.

O grupo que começou vagarosamente escolhendo nome para si renovou o fôlego com o envolvimento no projeto ELA, que levou parte da confraria ao lançamento da cerveja no Quiosque da Colombina em Goiânia e fortaleceu a visão de que um espaço para mulheres compartilharem conhecimentos e dúvidas sobre cerveja era mais do que bem-vindo. Nos dá muito orgulho ver que somos consumidoras de cerveja mas também temos muitas cervejeiras caseiras entre nós! Um grupo eclético que vai contribuir para a aprendizagem de cada uma e com nosso objetivo primordial: difundir a cultura cervejeira.

Vem com a gente! Nos siga no Facebook, no Instagram e fique sempre por dentro das novidades. Ah, os braços estão abertos e os copos cheios para as mulheres que quiserem desbravar esse mundo cervejeiro em excelente companhia.