Thursday 22 December 2016

Eu, sommelier

Há quatro meses eu estava com algum dinheiro no banco e sem perspectiva de emprego. Foi quando resolvi investir um pouquinho mais no meu hobby cervejeiro e me inscrevi no curso intensivo de Sommelier de Cervejas do Instituto da Cerveja Brasil (ICB). De lá para cá um monte de coisa aconteceu e até curso de tecnologia cervejeira eu fiz. Acabei chegando em São Paulo bem diferente de como achei que chegaria e isso impactou demais a forma como eu voltei de lá. Mas espera, estou colocando o carro na frente dos bois.

O curso de sommelier do ICB atendeu a minhas expectativas. Achei um curso bem completo, que me deu as ferramentas que preciso para me preparar para atuar como sommelier. Ao mesmo tempo me pergunto como teria me saído sem algum conhecimento prévio. O volume de informações é grande e o tempo para digerir tudo curto. Um curso intensivo, né? A experiência já me mostrou que quase sempre isso significa intenso. Por isso foi tão importante para mim ter encontrado pessoas maravilhosas para compartilhar aquelas duas semanas.


Engraçado é que nos primeiros dias tudo parecia muito tranquilo. Talvez porque nem tudo que eu estava vendo era novo (brigada, Randy Mosher), talvez porque só tive uma leve inflamação na garganta (brigada, São Paulo). Foram aulas sobre processos e escolas cervejeiras, sempre acompanhadas de degustações no final de cada turno, que nos ajudavam a ajustar a melhor maneira de descrever uma cerveja (jargões, todas as áreas têm os seus). Então veio a primeira prova teórica e as aulas de harmonização, atendimento, serviço, jantar harmonizado, carta de cervejas e parece que a ficha caiu "é isso tudo que precisamos fazer para trabalhar como sommelier de cervejas!". As coisas ficaram um pouco mais (in)tensas... mas eu já falei que minha turma era massa? Pois, parece que a gente tirou de letra.

 
Duas queridas que quero levar pra sempre desses dias.

No último dia do curso fizemos a segunda prova teórica, uma prova prática na qual precisávamos identificar, descrever e apontar quatro estilos de cervejas diferentes e uma apresentação de trabalho que consistia em montar uma carta de cervejas harmonizada para qualquer estabelecimento ou evento que desejássemos. O último dia do curso foi também o dia em que acordei podre de doente, mal conseguia respirar pelo nariz, quanto mais sentir aromas, então não vou comentar muito sobre a prova prática e meu desespero ao pegar a primeira cerveja e "não tô tentindo nada!" O que foi muito bacana e um baita aprendizado foi ver a apresentação de todos os grupos. Claro, perceber que eu era capaz de fazer algo que jamais me imaginei capaz (juntar uma comida com uma bebida, vê que incrível!) também foi incrível. A gente não para de aprender.

Ainda tenho muitas horas de copo pela frente para me tornar a profissional que desejo. Mas é isso, terminei as duas semanas de curso e voltei de São Paulo sabendo que eu quero mesmo trabalhar com cerveja. Isso não significa necessariamente mudar de área. Vejam só, estou cada vez mais convencida de que nasci para ser professora. Cenas do próximo capítulo? ;-)

Sim, visitei alguns bares bem bacanas em Sampa (uma das coisas que mais me encantou foi poder achar Dieu du Ciel! em cada esquina). Seguem as dicas:

Barcearia
Alameda dos Anapurus, 1469 - Moema
Pertinho do curso, único bar que fui mais de uma vez. As opções na garrafa são melhores do que nas torneiras. Preço honesto, food truck na porta.

Câmara Fria
R. Graúna, 137 - Moema
Bar novo, pequeno, mas muito aconchegante. Muitas torneiras da Wals e opções em garrafas. Comida boa e atendimento excelente.

Cervejatorium
R. das Rosas, 797 - Mirandópolis
O local estava passando por uma reforma, mas fomos super bem atendidos. Sommelier presente no local não é pra qualquer um. Apesar de terem algumas opções de petiscos, também havia um food truck na porta.

Cerveja Artesanal São Paulo
Rua Paracuê, 141 - Sumaré
A dona deste bar estava fazendo o curso também é na sexta-feira juntou muita gente lá. Todo mundo que trabalha no bar entende um bocado de cerveja e achei os preços bem razoáveis. Pra comer, adivinha? Food truck!

Ambar
R. Cunha Gago, 129 - Pinheiros
É o único do bairro dá modinha que vou colocar por aqui porque foi o único que eu gostei de verdade. O ambiente é agradável e o atendimento excelente. Deram conta de um monte de bêbados final de noite último dia de curso. E a comida é deliciosa também.

P.S.: o resultado final ainda não saiu, mas não já falei que todo mundo arrasou?

Thursday 1 December 2016

Teste anti machismo (ou anti babaquice) no mundo cervejeiro.

Volta e meia assistimos uma cervejaria ter uma ideia "brilhante e original" do seu departamento de marketing envolvendo mulheres. A bola da vez foi a Cervejaria Irada, que publicou no jornal que oferecerá uma cerveja a cada mulher que estiver fazendo top less na praia sob a desculpa de que estão "defendendo a Lei do Topless".

Eu já escrevi sério sobre o tema umas tantas vezes. Já debati, já discuti e até já briguei sobre o assunto. Mas como ele ainda permanece, decidi fazer um jogo para ver se as mentes "jeniais" que bolam relações desta natureza entre mulher e cerveja se tocam.

Vale lembrar que hoje as mulheres representam em torno de 40% das vendas de cerveja no Brasil. Então, nos tornamos figuras de peso.

Vamos lá. Some os pontos e veja o resultado no final.

A. Se você é dono de ponto de venda de cervejas artesanais: 
1) Você oferece cerveja docinha para as mulheres que entram no seu bar: 10 pontos;
2) Você evita oferecer IPAs para as mulheres: 10 pontos;
3) você pergunta o que ela gosta e indica uma cerveja a partir da resposta: 0 pontos;
4) Você mantém pôsteres de mulheres nuas, decotes exuberantes, semelhante as paredes de uma borracharia: 100 pontos e vá a terapia pois sua idade mental não passou dos 12 anos.

B. Se você é dono de cervejaria: 
1) Deixou de contratar uma mulher duvidando que ela seja boa cervejeira porque afinal "mulheres não entendem nada de cerveja": 10 pontos;
2) Deixou de contratar uma mulher porque ela supostamente não consegue carregar barril: 10 pontos;
3) Contrata seus funcionário de acordo com a qualificação e o grau de comprometimento dele, independente da cor, sexo, orientação sexual, religião etc: 0 pontos;
4) pensa num marketing que envolve mulheres porque afinal "sou machão e preciso mostrar para todo mundo que "sou um cheirador de calcinhas nato": 100 pontos e vá a terapia pois sua idade mental não passou do 12 anos

C. Se você é cervejeiro caseiro: 
1) Acha que mulher não entende nada de cerveja, não sabe muito como fazer cerveja, ou não consegue carregar panelas, galões de água e sacos de malte: 10 pontos;
2) Não dá ouvidos para os comentários técnicos delas porque só "os meus camaradas" realmente lêem sobre processos e técnicas: 10 pontos;
3) Acha que é um hobby apaixonante e assim como você ama, acredita que outras pessoas no mundo também adoram, independente da cor, sexo, orientação sexual, religião, etc: 0 pontos;
4) Posta foto da cozinha suja de mosto chamando a "patroa" para limpar ou faz cervejas com nomes sugestivos como bucetIPA: 100 pontos e vá a terapia pois sua idade mental permanece na idade da pedra.

Se você somou zero: muito bem! É um cidadão do século XXI.
Se você somou de 10 a 50: você pode melhorar. Mas fazendo uns ajustes aqui e acolá ainda há esperança ser se tornar um ser humano melhor.
Se você somou 100 ou mais: amadureça; você não passa de um ogro ou simplesmente um completo imbecil.

Brincadeiras a parte, a co-relação entre cerveja e mulheres já deu, né gente? Está todo mundo careca de saber que há mulheres consumidoras, profissionais e hobbistas neste mundo. Mas se você realmente acha que ficar insistindo em usar o corpo das mulheres para vender cerveja, seja lá o motivo, me parece que na realidade este tempo gasto em marketing estúpido e atrasado é para mascarar o fato de que a cerveja nem é tão boa assim. Concentrem-se em fazer boas cervejas, seja na fábrica ou em casa, e deixem as mulheres em paz.

Ou então coloque-se no lugar contrario. Imagine um dia de trabalho intenso, você chega em casa morto, doido por uma cerveja, abre a geladeira para pegar aquela especial que você estava guardando, e dá de cara com um rótulo assim:


Entendeu agora?